quinta-feira, 13 de setembro de 2012

CAÇADORES DE IMAGENS

Paparazzi,os verdadeiros caçadores de imagens. Fellini, La Dolce Vita e a crônica de uma Bela Roma hedonista
"Os jornais pagam generosamente, e nós que não estamos ligados por nenhum tipo de contrato,vendemos as fotos pela maior oferta. Para resumir nós inventamos um bom métier no bom momento.Antigamente as fotografias serviam para ilustrar as notícias, agora nossas imagens dão as noticias diretamente.Os grandes flagrantes são aqueles que vão repercutir diretamente na vida real de seus protagonistas". Elio Sorci, paparazzo
alain delon na boite regine's, carnaval de 1978 fotos alcyr cavalcanti
Nascidos na Roma pós guerra onde se reunia a riqueza mundial, o jet-set em jornadas intermináveis, os paparazzi foram o retrato de uma Roma alegre, hedonista, inconsequente, retratada magistralmente por Fellini, o admirável cronista de uma época em sua obra-prima La Dolce Vita em que os caçadores de imagens são eternizados. Fotografar uma pessoa em seu leito de hospital é rigorosamente proibido.Para isso nas paredes existem cartazes pedindo silêncio e paz. A presença de fotógrafos é interdita.Estamos em 31/10/1993, um paciente agoniza em seus ultimos instantes, de repente é tirado de seu torpor por um barulho que ele conhecia bem. É o ruído de um motor-drive de uma câmera fotográfica. O rosto atrás da câmera é de um conhecido, o paciente diz para o fotógrafo:"Você não tem vergonha?". O caçador de imagens responde:"Ei maestro, foi você que me criou" Nesse dia morre um dos maiores gênios do cinema, Federico Fellini na Policlínica de Roma. A foto foi um escãndalo, a criatura imitava seu criador. Os paparazzi não tem um nome, não é necessário,a câmera é implacável, o registro da situação sim é o que interessa. Fellini teria tido a idéia em uma madrugada de Roma em uma quente noite de verão em 1958 na Via Veneto. Ele nasce no desenho do maestro "nu, somente com sapatos e uma câmera fotográfica". Só isso é necessário. La Dolce Vita é um dos filmes mais importantes de todos os tempos.Em uma Europa arrasada em reconstrução, seus filmes eram a crônica de uma época, em que a desconfiança e a incomunicabilidade eram marcantes.A idéia partiu de uma concepção puramente visual, a partir das imagens dos paparazzi que revelavam de maneira única e irrefutável os escândalos e acontecimentos mundanos que agitavam as noites romanas. Francesca Taroni afirma que Fellini tinha em seu escritório as paredes cobertas de fotos dos jornais da época. "Se eu tivesse de escolher um equivalente impresso ao meu filme certamente seria um jornal de noticias". Ele havia ficado fascinado pelas fotos de Anita Ekberg se banhando na Fontana Trevi, após um noitada, e declarou entusiasmado:"Enfim encontrei a substãncia ideal para o meu filme". As relações na Doce Roma, centro do mundo eram de uma aparente alegria, que parecia não ter fim.
arduíno colassanti, no filme de nelson pereira. foto alcyr cavalcanti Desde o inicio gostei de fotos efetuadas no estilo naturalista. Estava em Mambucaba na Costa Verde, para reportagem para O Fluminense sobre o filme "Como era bom o meu francês", do Nelson Pereira dos Santos. Tivemos facilidades, o assistente era o meu amigo Carlos Alberto Camuirano parceiro do Grupo Câmera. A barreira era Ana Maria Magalhães que estava sempre coberta com um roupão, e não gostava nem um pouco de nossa presença.Nelson obviamente queria os indios "ao natural". Havia um pedido, não uma ordem para não fotografar as cenas, centrando as imagens na pessoa do diretor. Achei um despropósito, Nelson também, e fiz umas fotos dos atores em cena. Arduíno achou muito engraçado. Ana Maria, nem um pouco. Mas o mais agradável foi uma noite conversando com o grande diretor em uma bar em Angra, com muita caipirinha para animar a conversa. Sabia que estava na presença de um gênio do cinema.
Segundo Francesca Taroni(Paparazzi 1998) tudo começou em uma noite de 15/08/1958 na Via Veneto às duas horas da manhã. O ex-rei Farouk estava sentado no Café de Paris com as irmãs Capece Minutolo, que pertenciam à nobreza napolitana.O fotógrafo Tazio Secchiarolli se aproxima sorrateiramente. "Corria o boato que elas não usavam calcinha, eu queria conferir e documentar. Eu me senti agarrado pelo paletó e levantado ao ar pelo próprio rei Farouk que era muito forte. Fui salvo pelos guarda costas, que eu estava procurando evitar, da cólera de Farouk que iria me massacrar , me reduzir a pó. Aprendi a lição, e a partir deste dia fico sempre a uma distância de cinco a seis metros para fotografar". Apesar do entrevero desta aventura Secchiarolli inaugura um gênero, tornando-se precursor de uma longa série de flagrantes que irão correr o mundo. Secchiarolli funda em associação com Sergio Spinelli a "Roma Press Photos". Inaugura na Itália o mercado do flagrante indesejado, de fotografied'assalto.
cristina onassis (ao centro) em copacabanana. foto de alcyr cavalcanti A personalidade de Secchiaroli pode ser definida pelo seu filho David: "Meu pai era um sagitariano. Ele dizia que sua mira nas fotos vinha da influência de seu signo, Sagitário.Quando ele era pequeno era infalível com uma atiradeira.Adulto trocou o estilingue por uma câmera Leica." O maior de todos os paparazzi registra o primeiro strip-tease em novembro de 1958.A cena vai influenciar Fellini em Dolce Vita class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
fotos tazio secchiarolli publicadas no livro paparazzi (francesca taroni)

2 comentários:

Sergio Caldieri disse...

Parabéns Alcyr Cavalcanti. Vamos colocar mais fotos do seu precioso acervo e mostrar aos amigos. Sergio Caldieri

miranda sá disse...

Estou encantado com esses retalhos do arquivo de Alcyr Cavalcanti, um bamba da fotografia como se vê, tanto no flagrante jornalístico como na imagem artística... Miranda Sá, jornalista