segunda-feira, 24 de setembro de 2012

CAÇADORES DE IMAGENS, A CAÇADA À MULHER MAIS RICA DO MUNDO

"Intuição e rapidez, mas sobretudo capacidade em antecipar o acontecimento para estar sempre no lugar certo na hora certa, graças principalmente às indiscrições dos motoristas particulares, chauffeurs de taxi ou porteiros de hotel, são as qualidades essenciais de um paparazzo" (Francesca Taroni em Paparazzi, ed Assouline 1998). A imprensa especializada em fofocas e intimidades das celebridades constitui um mercado promissor onde todo mundo ganha, fotógrafos, editores,informantes, advogados e, em muitas ocasiões a própria celebridade.Para Dominique Cellura redator-chefe da Voici o que interessa aos leitores nesta época de crise é a vida íntima dos artistas para povoar seus sonhos. Quanto mais os grandes artistas protegerem sua intimidade mais os paparazzi farão o cerco. A imagem ficará então cada vez mais valorizada nesta rígida economia de mercado, onde cada um tem seu preço. A antropóloga Mirian Goldenberg que faz pesquisas sobre celebridades, moda e também a atuação dos caçadores de imagens afirma:"Eles só existem porque existe uma demanda cada vez maior sobre as intimidades dos artistas, é um mercado feminino. As revistam reproduzem o desejo que a mulher brasileira tem da vida perfeita, buscando o cotidiano das celebridades. Tudo é uma fantasia romântica, e os paparazzi se sentem muito poderosos porque tem o poder de mostrar coisas que o mundo quer ver, de gente que não quer ser vista. Em todos os lugares as pessoas imitam aqueles que tem mais sucesso. As pessoas querem saber como elas vivem para imitar e se identificar".
Cristina Onassis, herdeira de um império, e dona de uma das maiores frotas de navio do mundo veio ao Rio de Janeiro, no final dos anos setenta. Estava se divorciando e mantinha um relacionamento discreto com o russo Sergio Kausov. Ela evitava fotografias.Havia tido uma discussão com o Alberto Jacob, fazendo uma caçada ao contrário. Desta vez a caça ficou contra o caçador, perseguindo Jacob até a redação do jornal para reaver as cenas, para ela pouco agradáveis. Resolvi fotografá-la, sabia que ela era talvez a mulher mais importante do mundo, sabia também das dificuldades. Tive a informação que ela iria à boite Régine's no hotel Méridien. Quem facilitou minha entrada foi o jovem milionário Luis Fernando Macambira, que adorava fotografias e estava sempre no Globo para conviver com a equipe. Fomos ao Régine's na época um clube privée, entrei como convidado. Imagens eram proibidas. Esperei um pouco e não resisti ao ver a milionária dançando os ritmos da época. Só tive tempo de tirar quatro fotos, fomos expulsos. Por sorte eu conhecia o porteiro e segurança da casa,Helinto especialista em artes marciais. Dias antes tinha dado a ele fotos com sua mulher, sem cobrar um centavo sequer. Ele retribuiu a dádiva, retirando-me da boite delicadamente.A única foto aproveitável valeu como registro, mas...horas depois a caçada continuava.
Naquela noite dormi muito pouco. Zózimo Barroso a quem Luis Fernando havia oferecido a foto, disse que publicaria, mas de graça.Comentário geral "que cara pão duro, miserável, será que alguém trabalha de graça?". Negócio desfeito e fomos pra caçada, com reforço de William Brother colega do Globo e do Roberto Price que iria tornar-se amigo e colega anos depois na Folha de São Paulo. Macambira havia colocado à nossa disposição uma lancha para qualquer eventualidade. Chegamos na porta do Hotel Leme Palace sete horas da manhã. Surpresa: estavam de plantão Sebastião Marinho de O Globo colega de equipe e Erno Schneider editor de fotografia, um dos melhores que o Brasil já teve. A equipe paparazzi concluiu: vamos à luta é tudo ou nada. Lá pelas 12 horas
cansados de esperar a milionária sai, não do hotel, mas de um apartamento de um casal de amigos na avenida Atlântica, saimos correndo atrás da noticia. Ela entra em uma loja que vende pedras, gemas, de nosso inesgotável subsolo.
Algumas imagens foram vendidas,outras não, em uma época em que a transmissão de dados requeria uma parafernália.Entre perdas e danos o que compensou foi a emoção, a sensação do click dificil e definitivo. Foi um estímulo para novas aventuras.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

CAÇADORES DE IMAGENS

Paparazzi,os verdadeiros caçadores de imagens. Fellini, La Dolce Vita e a crônica de uma Bela Roma hedonista
"Os jornais pagam generosamente, e nós que não estamos ligados por nenhum tipo de contrato,vendemos as fotos pela maior oferta. Para resumir nós inventamos um bom métier no bom momento.Antigamente as fotografias serviam para ilustrar as notícias, agora nossas imagens dão as noticias diretamente.Os grandes flagrantes são aqueles que vão repercutir diretamente na vida real de seus protagonistas". Elio Sorci, paparazzo
alain delon na boite regine's, carnaval de 1978 fotos alcyr cavalcanti
Nascidos na Roma pós guerra onde se reunia a riqueza mundial, o jet-set em jornadas intermináveis, os paparazzi foram o retrato de uma Roma alegre, hedonista, inconsequente, retratada magistralmente por Fellini, o admirável cronista de uma época em sua obra-prima La Dolce Vita em que os caçadores de imagens são eternizados. Fotografar uma pessoa em seu leito de hospital é rigorosamente proibido.Para isso nas paredes existem cartazes pedindo silêncio e paz. A presença de fotógrafos é interdita.Estamos em 31/10/1993, um paciente agoniza em seus ultimos instantes, de repente é tirado de seu torpor por um barulho que ele conhecia bem. É o ruído de um motor-drive de uma câmera fotográfica. O rosto atrás da câmera é de um conhecido, o paciente diz para o fotógrafo:"Você não tem vergonha?". O caçador de imagens responde:"Ei maestro, foi você que me criou" Nesse dia morre um dos maiores gênios do cinema, Federico Fellini na Policlínica de Roma. A foto foi um escãndalo, a criatura imitava seu criador. Os paparazzi não tem um nome, não é necessário,a câmera é implacável, o registro da situação sim é o que interessa. Fellini teria tido a idéia em uma madrugada de Roma em uma quente noite de verão em 1958 na Via Veneto. Ele nasce no desenho do maestro "nu, somente com sapatos e uma câmera fotográfica". Só isso é necessário. La Dolce Vita é um dos filmes mais importantes de todos os tempos.Em uma Europa arrasada em reconstrução, seus filmes eram a crônica de uma época, em que a desconfiança e a incomunicabilidade eram marcantes.A idéia partiu de uma concepção puramente visual, a partir das imagens dos paparazzi que revelavam de maneira única e irrefutável os escândalos e acontecimentos mundanos que agitavam as noites romanas. Francesca Taroni afirma que Fellini tinha em seu escritório as paredes cobertas de fotos dos jornais da época. "Se eu tivesse de escolher um equivalente impresso ao meu filme certamente seria um jornal de noticias". Ele havia ficado fascinado pelas fotos de Anita Ekberg se banhando na Fontana Trevi, após um noitada, e declarou entusiasmado:"Enfim encontrei a substãncia ideal para o meu filme". As relações na Doce Roma, centro do mundo eram de uma aparente alegria, que parecia não ter fim.
arduíno colassanti, no filme de nelson pereira. foto alcyr cavalcanti Desde o inicio gostei de fotos efetuadas no estilo naturalista. Estava em Mambucaba na Costa Verde, para reportagem para O Fluminense sobre o filme "Como era bom o meu francês", do Nelson Pereira dos Santos. Tivemos facilidades, o assistente era o meu amigo Carlos Alberto Camuirano parceiro do Grupo Câmera. A barreira era Ana Maria Magalhães que estava sempre coberta com um roupão, e não gostava nem um pouco de nossa presença.Nelson obviamente queria os indios "ao natural". Havia um pedido, não uma ordem para não fotografar as cenas, centrando as imagens na pessoa do diretor. Achei um despropósito, Nelson também, e fiz umas fotos dos atores em cena. Arduíno achou muito engraçado. Ana Maria, nem um pouco. Mas o mais agradável foi uma noite conversando com o grande diretor em uma bar em Angra, com muita caipirinha para animar a conversa. Sabia que estava na presença de um gênio do cinema.
Segundo Francesca Taroni(Paparazzi 1998) tudo começou em uma noite de 15/08/1958 na Via Veneto às duas horas da manhã. O ex-rei Farouk estava sentado no Café de Paris com as irmãs Capece Minutolo, que pertenciam à nobreza napolitana.O fotógrafo Tazio Secchiarolli se aproxima sorrateiramente. "Corria o boato que elas não usavam calcinha, eu queria conferir e documentar. Eu me senti agarrado pelo paletó e levantado ao ar pelo próprio rei Farouk que era muito forte. Fui salvo pelos guarda costas, que eu estava procurando evitar, da cólera de Farouk que iria me massacrar , me reduzir a pó. Aprendi a lição, e a partir deste dia fico sempre a uma distância de cinco a seis metros para fotografar". Apesar do entrevero desta aventura Secchiarolli inaugura um gênero, tornando-se precursor de uma longa série de flagrantes que irão correr o mundo. Secchiarolli funda em associação com Sergio Spinelli a "Roma Press Photos". Inaugura na Itália o mercado do flagrante indesejado, de fotografied'assalto.
cristina onassis (ao centro) em copacabanana. foto de alcyr cavalcanti A personalidade de Secchiaroli pode ser definida pelo seu filho David: "Meu pai era um sagitariano. Ele dizia que sua mira nas fotos vinha da influência de seu signo, Sagitário.Quando ele era pequeno era infalível com uma atiradeira.Adulto trocou o estilingue por uma câmera Leica." O maior de todos os paparazzi registra o primeiro strip-tease em novembro de 1958.A cena vai influenciar Fellini em Dolce Vita class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
fotos tazio secchiarolli publicadas no livro paparazzi (francesca taroni)