segunda-feira, 20 de setembro de 2010

A Fotografia Como Documento Histórico

Collor sobe a rampa foto Alcyr Cavalcanti all rights reserved

"Em um universo de imagens mudas que nada representam, nós lutamos por imagens que falam por si mesmas, que nos contam nossa história, nosso mundo tal qual ele é, sem filtro".
(Christian Gauffre)

Em época de conceitos pós-modernos a fotografia como documento histórico tem sofrido tentativas de descrédito em prol de uma suposta verdade, em nome das novas tecnologias. Criou-se um falso dilema que nos leva até milhares de séculos atrás ao discurso de Sócrates refutando as teses dos sofistas, os embusteiros da cultura helênica. São imposturas intelectuais para enganar a muitos na era da velocidade. Fala-se muito na rapidez da informação, na apuração ultra-rápida para suprir os espaços das "fábricas de notícias" em que se tornaram os jornais em quase todo o mundo. Tentam nos convencer que não devemos nos preocupar tanto com a exatidão da notícia, porque os jornais irão se transformar no dia seguinte em "papel pra embrulhar peixe". O parecer toma lugar do ser, é a tentativa da vitória do simulacro em novos tempos envelhecidos do século XXI. É o reino da apuração mal feita, da transmissão de dados a todo vapor, em "tempo real", um imediatismo a qualquer preço. Na era da velocidade nunca houve tanta informação, somos bombardeados a todo momento por uma enxurrada de notícias, mas em contrapartida a humanidade nunca esteve tão mal informada. O sociólogo e fotógrafo francês Jean Baudrillerd já havia verificado em sua análise sobre o excesso de informação em sua obra A Arte da Desaparição: "A desinformação vem da profusão da informação, de seu encantamento, de sua repetição em círculos, que cria um campo de percepção vazio".
As férias do presidente foto Alcyr Cavalcanti all rights reserved
A concentração da informação é um fenômeno mundial podendo levar a uma manipulação do noticiário. No Brasil quatro agências distribuem as notícias através das novas tecnologias:Reuters, France Presse, Associated Press e EFE, e seu noticiário pode não corresponder à verdade dos fatos sendo filtrado pelo interesse ocasional. A informação perde seu verdadeiro sentido, apenas informar.
Para Pierre Bourdieu o  fotojornalismo não é uma entidade abstrata, é um segmento do jornalismo que está inserido no campo da produção cultural. A cultura têm sido colocada intencionalmente em desuso, estando imersa na crise geral do capital que tem afetado a todos os países sem uma solução previsível, num efeito perverso da globalização. Os jornais estão perfeitamente inseridos na economia capitalista, não sendo mais dirigidos por jornalistas, mas por empresários que visam somente o lucro, e só pensam na relação custo-benefício em detrimento da transmissão de conhecimento. A decadência e a morte anunciada do Jornal do Brasil pode servir como exemplo.
As novas tecnologias têm como lado perverso a possibilidade da manipulação de imagens, falseando o que poderia se tornar um documento para a história, apresentando uma aparente verdade como um verdade irrefutável. O conteúdo de uma imagem jornalística não pode ser modificada, não se pode interferir na realidade, no factual. O fotojornalista é um formador de opinião que deve seguir fielmente os princípios da ética.